
Poema: “Traduzir-se” do maranhense Ferreira Gullar
24 de October de 2019
Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?
Ferreira Gullar, Na Vertigem do Dia. 1980.
You May Also Like

CONTO: RELATO DE OCORRÊNCIA EM QUE QUALQUER SEMELHANÇA NÃO É MERA COINCIDÊNCIA – Rubem Fonseca
8 de September de 2019
CONTO – PORQUE LULU BERGANTIM NÃO ATRAVESSOU O RUBICON – José Cândido de Carvalho
4 de September de 2019